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Santo Antonio de Pádua
Santo Antônio

Santo Antônio

Por Frei Geraldo Monteiro

INFÂNCIA
Os pais eram pessoas boas, de fé cristã, de posses e também preocupados com a educação dos filhos em todos os sentidos. Por isso, chegando à idade escolar, Fernando começou a frequentar a Escola dos Cônegos da Catedral de Lisboa. Ali, com as ciências propriamente escolares, ele teve uma profunda educação religiosa, de acordo com o seu tempo. Seus pais, muito religiosos, seguiam-no com carinho. Mas não deixaram de ficar surpresos quando, em uma tarde, voltando das aulas – já tinha quinze anos – Fernando, meio sério, meio emocionado, disse:

– Mãe, eu vou ser padre!

À noite, quando o pai chegou e soube da conversa de Fernando com a mãe, chamou-o de lado e lhe disse:

– Filho, você sabe o que está fazendo? Eu sempre sonhei para você a carreira militar. Você sabe: eu sou oficial do Exército. Nossa família é descendente dos primeiros cruzados que iam à Terra Santa libertar os lugares sagrados onde Jesus viveu, morreu e ressuscitou. Por que você não segue a carreira de Cavaleiro? Vai lhe dar muita fama. E também dinheiro, é claro. Aliás, dinheiro não é problema. Eu pago todos os estudos necessários.
Fernando ficou um momento em silêncio e abaixou a cabeça. Depois, olhou para o pai, olhou para o teto da casa como que pro- curando as melhores palavras para esclarecer que sua decisão tinha sido amadurecida durante muito tempo, sua decisão era firme e não era nenhuma ilusão. Ficaram – pai e filho – conversando por mais de uma hora. A mãe também entrou na conversa.
Final: Fernando iria, no fim do verão, entrar no Seminário dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, ali mesmo, na periferia da ci- dade de Lisboa, num lugar chamado São Vicente de Foras. E de fato foi.

ESTUDOS E ORDENAÇÃO SACERDOTAL
Foram mais ou menos dez anos de estudos. Aliás, não só de estudos, mas também de lutas, sacrifícios, dúvidas e tentações. Com efeito, embora não quisessem contrariar o filho, os pais também não escondiam que ficariam bem mais contentes (pobre pensar humano, tão distante do pensar de Deus!) se Fernando se preparasse para ser cavaleiro, a profissão em moda na época. Pais são sempre pais: um pouco... bastante... egoístas! Querem decidir pelos filhos. Pensam que o que eles mesmos querem é que vai fazer a felicidade dos filhos. Um biógrafo de Santo Antônio escrevia: “O pai que sonhara para este filho um luminoso futuro de cavaleiro, nunca teria imaginado que a vocação abraçada pelo filho lhe procuraria uma glória, também terrena, que jamais teria alcançado na carreira que seu pai tanto desejava e sonhava” (Santo Antônio de Pádua, Pádua, 1977, p.3).
Nesses tempos – por incrível que pareça – os pais e os amigos se esforçavam para que Fernando desistisse do seminário. Inclusive, sendo Fernando um jovem bonito e simpático, as moças e jovens da época assediavam-no insistentemente com tentativas de namoricos, noivados e até... casamento! Foram anos difíceis para Fernando, mas anos também fecundos que o fizeram refletir sobre sua vocação. Foram anos que acabaram por iluminar e fortalecer o seu querer e por levá-lo a acertar os passos.
Perseverou. Renunciou a muita coisa, e tudo para abraçar a Deus e seu serviço. Ao terminar os estudos de filosofia, teve de to- mar uma decisão: a bem de sua vocação, para ter um pouco mais de paz, de sossego e de tempo para seus estudos, em acordo com seus superiores, deixou sua cidade natal (Lisboa) e foi para Coimbra, na- quela época capital do Reino de Portugal. Ali havia uma abadia dos Agostinianos: o Mosteiro de Santa Cruz.

COIMBRA
Coimbra, localizada a cerca de 200 quilômetros ao norte de Lisboa (chega-se, hoje, rapidamente, através do “comboio foguete”, como dizem nossos patrícios portugueses), é uma cidade universitária por excelência. Lá, nosso falecido presidente eleito (mas que não tomou posse) Tancredo Neves, em 1985, teve uma acolhida carinhosa, obtendo o título de doutor “honoris causa” no rico salão da biblioteca dourada com madeira e folhas de ouro, provavelmente levados do Brasil. Em Coimbra, ouve-se ainda muito o fado: “Coimbra, és a canção que vem do coração...” Realmente é uma cidade linda, assentada às margens do Rio Mondego e sob colinas repletas de olivais. Pois bem: em Coimbra, Fernando fez seus estudos de teologia e foi ordenado sacerdote. Foi uma festa e tanto! Pais e parentes compareceram e amigos chegaram de todas as partes para abraçar aquele jovem que estava alcançando uma etapa importante na vida: ser sacerdote! Passados os dias de festa, Fernando continuou os estudos e foi-se especializando, sobretudo nas Sagradas Escrituras, de que ele tanto gostava. Lendo hoje os seus “Sermões”4, percebe-se a sua grande profundidade e familiaridade com a Bíblia Sagrada. Graças também, é claro, a esses anos passados em severos estudos sob os arcos manoelinos do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

INGRESSO NA VIDA FRANCISCANA

Padre Fernando estudava e estudava. Certo dia, vieram bater à porta do convento cinco pessoas. Este encontro haveria de mar- cá-lo profundamente. Aliás, daria uma volta de 180 graus em sua vida. Eram cinco frades franciscanos: frei Berardo, frei Otto e frei Pedro, sacerdotes, e frei Acúrsio e frei Adiuto, ambos irmãos religiosos. Estavam ali em Coimbra vindos da Itália, mandados por um tal frei Francisco de Assis, homem mui santo, “católico e todo apostólico”. Viviam no alto de um morro ali perto, chamado Santo Antão dos Olivais (onde até hoje há um convento em que vivem os frades menores conventuais), no meio do mato, em uma casinha humilde, preparando-se na oração e na penitência para uma “aventura” missionária na África. Mais exatamente, iriam para o Marrocos, entre os muçulmanos, para pregar o Evangelho. Levavam ainda vivas no coração as últimas palavras do seráfico Pai Francisco: “Vão e anunciem aos homens a paz e a penitência para o perdão dos pecados. Sejam pacientes na perseguição, certos de que o Senhor cumprirá o seu desígnio e manterá as suas promessas. Respondam com humildade a quem lhes perguntar, abençoem a quem os perseguir, agradeçam a quem os injuriar e caluniar, porque em troca nos é prepara- do o Reino Eterno”. E ressoavam ainda, nos ouvidos e na alma deles, as palavras que cada um, prostrado aos pés do Pobrezinho e por ele abraçado, ouviu dizer: “Coloque sempre sua confiança no Senhor e ele o haverá de sustentar”... (Sl 37[36],5).

Aqueles cinco frades chegaram ao Mosteiro de Santa Cruz a fim de pedir esmola em forma de comida. Hábitos singelos, pés no chão, simplicidade, alegria e... pobreza! Tudo aquilo impressionou por demais o padre Fernando, que, imediatamente, os convidou a entrar e os levou ao refeitório para partilharem da mesa comum. Tais encontros se repetiram por várias vezes. Padre Fernando sem- pre aproveitava para pedir informações, saber sobre a vida deles, sobre o tal frei Francisco de Assis que vivia lá na Itália, mas cuja fama já chegara a Portugal como fundador de um grupo de “irmãos penitentes”. Algumas vezes, mais tarde, padre Fernando chegou até a visitá-los lá em cima no Morro de Santo Antão dos Olivais. Um dia os frades partiram. Rumo à África. E padre Fernando os viu, todos os cinco, alegres, pés no chão, desaparecerem na última cur- va da estrada que os levaria a Lisboa e, dali, para o Marrocos. Mas a imagem viva daqueles fradezinhos passou dos olhos ao coração do monge Fernando. Aquela vida pobre e singela, alegre e repleta de simplicidade e fé, contrastava com a sua, que lhe parecia, então, tão medíocre, cômoda, longe dos problemas do povo cristão e não cristão. Algo de novo começou a brilhar. Primeiro, no pensamento. Depois, no coração. E o monge Fernando passou a refletir...

DE FERNANDO A ANTÔNIO, DE AGOSTINIANO A FRANCISCANO

Fevereiro de 1220. Uma notícia correu de boca em boca por toda Coimbra. E chegou também aos ouvidos de Fernando. Cinco missionários franciscanos que foram à África estavam de volta... mortos! Após cruéis sofrimentos, haviam sido assassina- dos por pregarem o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo em terras de África.
As relíquias deles tinham sido piedosamente recolhidas pelos cristãos e, por ordem do irmão do rei de Portugal, príncipe dom Pedro II, ali exilado, transportadas para Coimbra a fim de serem veladas na Igreja de Santa Cruz, no mosteiro onde vivia padre Fer- nando. Este, ao saber da notícia, falava consigo mesmo: “Não, não é possível! Eu os vi partirem sorridentes e alegres dois meses atrás. E agora estão mortos! Não posso acreditar!...”. Bem depressa correu ao encontro da procissão que se aproximava da igreja, ao repicar de sinos que mais pareciam de festa do que de luto. E lá vinham sendo transportados com singela devoção cinco caixões trazendo os cinco corpos dos primeiros mártires franciscanos.
15 De Fernando a Antônio, de agostiniano a franciscano
Padre Fernando os acompanhou. Olhava, silencioso e meditAtivo, para aqueles cinco corpos inertes, mas palpitantes de uma viva mensagem: haviam dado a vida pela fé em Jesus Cristo!... Frei Otto era tão bom! Frei Berardo, o superior, sempre sorridente! Frei Acúrsio tão disposto e disponível para qualquer obra! Frei Adiuto, alto e magro, tão dado à oração! Frei Pedro quase nunca parado, sempre fazendo alguma coisa!... A partir daí, algo que já anteriormente lhe brotara no coração, ia tomando contornos mais precisos, ia começando a se delinear de forma mais clara: “Eu também quero ser mis- sionário. Eu também quero ser mártir. Eu também quero derramar meu sangue por Jesus. Eu também quero pregar o Evangelho aos povos pagãos. Não quero ficar mais aqui fechado entre as paredes do mosteiro. Mas como...?” Esta última pergunta atormentava a mente e o coração de Fernando. “Mas como...?”

Um dia, vieram bater à porta do mosteiro os franciscanos de Santo Antão dos Olivais. Fernando aproveitou então para lhes abrir mente e coração e lhes revelar um sonho que havia meses vinha acalentando: ele queria ser missionário, queria pregar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo a povos que não O conhecessem. Possivelmente no Marrocos, para onde aqueles cinco frades tinham se dirigido e de onde tinham voltado como mártires da fé. Para tanto, Fernando interrogava-os sobre a possibilidade de se tornar franciscano, a fim de realizar esse seu projeto.
Foram dias de muito diálogo, de muitas dificuldades, de muitos problemas, interiores e exteriores. O próprio superior do Mosteiro de Santa Cruz, dom João, não entendia aquela atitude de padre Fernando. No fim, porém, convencido da sinceridade e da lealdade do jovem monge, deu-lhe a licença pedida. Padre Fernando vestiu o hábito franciscano e abandonou para sempre o mosteiro de Santa Cruz. Assim, deixou o nome de Fernando e passou a chamar-se Antônio. Era o início de uma vida nova.


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